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terça-feira, 13 de março de 2018

PERSONALIDADES DO BOLÃO GAÚCHO - GERNÓ AFFONSO ELTZ

Os esportistas da cidade de Novo Hamburgo e região, certamente, hão de se lembrar do lendário e carismático "Seu Gernô", como era popularmente conhecido nas canchas de Bolão do Estado. O Seu Gernô teve grande destaque como atleta e técnico de equipes masculinas e femininas de Bolão chegando a sagrar-se Campeão Estadual e Brasileiro de Bolão.  
O que muitos não sabem é que, o Seu Gernô, também sempre demonstrou grande competência nas áreas musical, integrando o Coral Júlio Kunz como cantor e compositor, e jogando futebol por Clubes de Lomba Grande, Sapiranga, além dos tradicionais Esperança, de Hamburgo Velho, e Floriano, atual Esporte Clube Novo Hamburgo. Dedicou, também, grande parte de sua vida profissional ao setor coureiro-calçadista, tendo iniciado suas atividades como servente e ascendendo, ao longo dos anos, até o posto de representante comercial.
Foi sempre um grande apaixonado e incentivador do esporte do Bolão, tendo sido responsável pela criação da Escolinha de Bolão para crianças e adolescentes. Foi também um grande colaborador da Liga Hamburguesa de Bolão (Secretário) e dos Clubes da região, atuando como fiscal de pista, apontador em competições oficiais e divulgador das coisas do Bolão, atividade que lhe conferiu um formidável acervo de registros e prontuários de grande valor histórico para o Bolão. 
Natural do distrito de Lomba Grande, faleceu em abril de 2016. Foi casado com Etel Maria Rowedder e pai de duas filhas: Beatriz e Mara. 
Numa gentil colaboração do nosso colega Bolonista Rafael Furtado, colhemos uma entrevista especial que o Seu Gernô concedeu a ele, por ocasião da redação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), do Curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, no ano de 2006, com o Título "A Importância do Espaço que o Bolão tem na Mídia para os Bolonistas de Novo Hamburgo". Uma raridade da qual transcrevemos alguns trechos:

Gernó Affonso Eltz
Acervo: Grêmio Atiradores de Novo Hamburgo

RAFAEL: Como você começou a jogar Bolão e como foi apresentado ao jogo? 
GERNÔ: Eu acompanhei meu pai no Bolão, né. Ele jogava num Grupo, lá na Lomba Grande, que era de nome "Cambuim", e então eu era armador. Todo armador quando tem uma folga, assim que o bolonista para de atirar a bola ele vai lá embaixo e atira uma bola ligeiro, isso é sorte do armador, né. Então, quando eu comecei a ter 12 anos e já comecei a participar dos jogos de Wanderpreiss que eles jogavam lá... E aí com 14 anos eu vim para Novo Hamburgo, aí comecei a trabalhar... Aqui em Novo Hamburgo tinha um Grupo no Aliança que queria colocar gente jovem no Grupo e uma dos meus patrões lá da fábrica era um dos integrantes desse Grupo Juventude. Como ele ficou sabendo que eu jogava Bolão, ele me convidou para jogar no Aliança... Joguei alguns anos lá e depois passei pro Grupo União. Em 1972 é que eu vim pro Grêmio Atiradores. Daí eu comecei a ter mais condições de jogar nas equipes de seleções, na seleção principal.

RAFAEL: Eu vou te perguntar assim, por que tu joga Bolão?
GERNÔ: É, o Bolão é um esporte que desde jovem a gente gosta, né. E é um esporte que atualmente, pela minha idade, eu só posso jogar Bolão. Mas é um esporte que tu te sente bem, porque tu te movimenta, tu faz exercício de braço, perna e tronco, tu corre junto, tu te exercita, né. Então desenvolve, né. O Bolão é uma prática que você quer jogar mais, que você quer aprender, que você quer chegar ao ponto máximo, que é 180. Tu quer sempre fazê, né. Tu faz 178, 179, tu fica, puxa vida fiz um 8. Por que não fiz tudo, né? Então o objetivo é fazer o máximo. E por isso, até há poucos dias comentamos, é tão técnico que você precisa fazer os arremessos da mesma perfeição, né? Se você senta a bola um pouquinho diferente, o resultado lá em baixo não dá o resultado certo. É o jogo sabe? O esporte é isso, né.


Flagrante do 4º Campeonato Estadual de Bolão Masculino, Bola Pequena, 
na Associação Riograndense dos Viajantes de Porto Alegre, 
de 12 a 13 de Novembro de 1977.
Acervo: Grêmio Atiradores de Novo Hamburgo

RAFAEL: O que tu diria que o Bolão significa pra ti?
GERNÔ: Olha, dentro da amizade que a gente forma, e dentro do conhecimento que a gente tem jogado esses estaduais, quando a gente encontra sempre amigos, a gente encontra sempre gente conhecida. É, todos os campeonatos que você vai, você conhece uma pessoa com quem você já jogou, ou que já jogou contra ele, que tens amizade, que tens companheirismo. Forma dentro da equipe principal e, então, teu objetivo é jogar cada vez melhor pra formar dentro de uma seleção, pra tu poder defender a tua sociedade que tu tá jogando...

RAFAEL: Que importância tu dá pro Bolão?
GERNÔ: É uma importância bem dizer máxima, porque o Bolão é muito disputado. Eu agora segunda-feira fui vê o desempate do jogo lá dos veteranos, foi um jogo disputadíssimo e olha, a torcida... Então, isso anima, isso dá vontade da gente participar, né.... É competição, a competitividade que tu tens com as equipes, né, e junto com as tuas amizades, com os amigos, né.

RAFAEL: Eu queria saber como é o Bolão dentro da Ginástica e um pouquinho mais adiante, o que o Bolão representa pra Ginástica? (Clube que o Gernô defendia em 2006)
GERNÔ: O Bolão dentro da Ginástica se disputa assim como nas outras Sociedades... dentro daqueles Grupos que formam dentro do Departamento de Bolão, sempre tem um ou dois que são bem melhor que os outros, como atletas, como bolonistas de melhor qualidade, no sentido de jogar. Então, tem Grupos fortes, médios e outros que estão sempre na "rabeira"... E o Bolão na Ginástica eu vejo que não tem muita significativa, não é muito importante, porque o Bolão não dá retorno pra Sociedade. O Bolão é um exporte extra que custa bastante pra Sociedade. Haja visto as taxas que as Federações cobram pra inscrição, pra renovação e assim por diante... Tem Clubes, tem Sociedades aí, que ás vezes, tem um caixa que não sai do custo da Sociedade. São os próprios Bolonistas que pagam e fazem uma rifa, fazem isso, fazem aquilo, né. 

RAFAEL: É, Gernô, tu joga Bolão há anos, né? Décadas praticamente. Ahn, como era o Bolão quando tu começou a jogar e como ele é hoje, quais foram as principais mudanças?
GERNÔ: O Bolão em si mudou muito pouco, apenas as regras... Que o Bolão quando começou, existia no fim da pista um tipo de sarrafo, ali você tinha que encostar o pé, pra dali sair jogando. Hoje você pára dentro daquele espaço de seis metros e meio em qualquer posição. Aqueles que jogavam parado... davam uns passos para jogar a bola, tinham maior dificuldade de jogar. Então por isso começou a se dar as caminhadas, três, quatro passos pra soltar a bola... O Bolão de anos passados era mais difícil de jogar pela maneira como as canchas eram aplainadas... por intermédio de plainas elétricas, onde o operador passava mais num ponto do que no outro. Então, a cancha não tinha uma cavidade uniforme. Hoje não, hoje tem aparelhos elétricos, máquinas que desbastam igual a cancha. Antigamente, inclusive, não é anedota, é caso que aconteceu, se fazia sacanagem. Os pranchões eram colocados em cima de pilares, embaixo era oco. Então, lá no Aliança fizeram uma cancha em cima de pilar, ..., botaram um calço embaixo onde a bola entra pra caixa, botaram um calço pra levantar o pranchão pra bola em vez de ir pra caixa, ir pro meio. Então eles preparavam uma bola no "Faísca" (antigo fabricante de Bolas de Bolão), em São Leopoldo, mansa. Então pro adversário, eles colocavam uma cunha e a bola ia pro meio sempre... Hoje não existe mais essa sacanagem, hoje existe realmente disputa. Onde você precisa ter braço, precisa ter técnica, ter preparo, ter jogo pra jogar. O Bolão também mudou no sentido de regulamentação, hoje você tem tempo pra jogar... Antigamente, tinha bolonista que balançava uma bola pra aquecer o braço 20 vezes... O tempo era indeterminado, podia levar 2 a 3 horas pra jogar, era permitido... 

Equipe Grêmio Atiradores Campeão Estadual Bola Pequena (1979)
Acervo: Grêmio Atiradores de Novo Hamburgo

RAFAEL: Passando agora pra segunda parte, que trata sobre as questões de comunicação, eu queria saber através de quais veículos tu busca informações (do Bolão)?
GERNÔ: Como eu não tenho computador, não tenho facilidade de entrar, como é que se diz? Entrar na Internet... Eu tenho que colher informações por intermédio de amigos, telefone, resultados, ou pelo departamento lá no mural onde eles botam os avisos, donde eles botam as notícias. Muita coisa eu consigo por intermédio da divulgação do jornal, né. Que até as divulgações do jornal foram iniciadas por mim, quando eu comecei em 71 a enviar pro jornal notícias que eles publicavam. Agora mais recentemente, a presidenta da Liga (Liga Hamburguesa) que era a Lúcia Ramos, e eu era secretário, nós fomos ao NH (Jornal NH), pedir um espaço pra colocar notícias do Bolão. Então, o Aurélio Decker, que era diretor do Jornal nos concedeu um espaço, disse ele "vou dar pra vocês. Só que toda semana tem que me trazer notícias" e eu fiz isso. Então, toda semana eu colhia dados, informações sobre campeonatos, sobre resultados, sobre atividades, sobre notícias de atletas pedindo transferência, tu levava lá e eles colocavam. Bom, agora que nós saímos da Liga e o Primaz (Luiz Eduardo Amoretti Bossle) assumiu a presidência ele foi no NH e conseguiu também esse espaço. Há poucos dias tiraram dele, disseram que houve uma mudança de paginação, não sei como é que se diz isso. Que havia necessidade de reduzir, precisava eliminar essa coluna. Ele teve sorte e conseguiu em outro jornal da cidade, a Folha. Essa "Folha" toda a sexta-feira sai a coluna do Bolão. Eu recorto e coloco dentro do livro do Bolão. Então o Primaz hoje divulga isso, mas as notícias são só daqui! São só de Novo Hamburgo. Não existe uma divulgação maior por parte geral do Bolão... A Federação idealizou um Jornal... ficou uma coisa tão boa que não deu prosseguimento. Os caras que botaram publicidade até hoje não pagaram o custo da publicação aí. E então por isso, não tem interesse! Eu tenho outro jornal qui que vou te mostrar, é impresso pela Sociedade Ginástica e não tem uma palavra de Bolão. A Ginástica ficou esse ano campeão, masculino, feminino e casais, teve o moço que jogou lá pela equipe juvenil o campeonato brasileiro juvenil, o Gustavo Tegner, braço de ouro. Não publicaram uma palavra do melhor atleta do campeonato, fez quatro vezes 180. A Sociedade não tem interesse. Isso que falta, mas alguém tem que fazer isso aí, puxar a frente... Não tem um repórter que vai nos jogos, que tira fotos lá no campeonato que está sendo jogado... O Bolão não é um esporte movimentado como o futebol, voleibol, basquete, no punhobol né? No Bolão é só aquele tempo que tu joga né? e tu precisa ficar a noite toda às vezes assistindo o bolonista jogar aquela bola... 

RAFAEL: Por isso que tu acha que os veículos não tem  tanto interesse no Bolão? 
GERNÔ: O próprio Jornal NH não tem interesse... E olha, e tem, porque se quiser tu faz uma página inteira só do Bolão. Porque toda a semana tem Bolão, todo o dia tem Bolão, todos os Clubes jogam Bolão, toda a Sociedade oferece Bolão pra jogar, mas ninguém faz nada, ninguém se envolve pra fazer isso aí, que falta.

RAFAEL: Ahn, eu queria te perguntar agora como deveria ser esse espaço do Bolão no veículo?
GERNÔ: Olha, esse é como eu falei, esse espaço deveria ser um abnegado, uma pessoa que se interessava de fazer isso. Porque quando o Primaz perdeu a coluna no NH, eu fui lá e falei com o Miguel Schmitz, que é um dos diretores, e falei: Pô seu Miguel, o Bolão perdeu a página, o Bolão perdeu a coluna, o Bolão perdeu o espaço dele aqui, o Bolão que é tão praticado em Novo Hamburgo, como é que é? Lógico, se você tem necessidade de fazer modificações no jornal tudo bem, mas dão condições de divulgar o Bolão.

RAFAEL: ... na tua opinião, desde que tu começou a jogar Bolão, comparado com os dias de hoje, o Bolão cresceu ou decresceu? 
GERNÔ: Ah... cresceu... cresceu sim... muita coisa! ... pela uniformização das canchas, porque em todos os lugares que você vai, você sabe como tem que jogar pela maneira como corre a bola na cancha... Antigamente não tinha isso, não tinha essas canchas bem cuidadas, com óleo... então o Bolão desenvolveu muito.Hoje você tem ter uma equipe muito boa pra ganhar, pra ser vencedor você tem que manter uma equipe uniforme, porque as outras equipes também tem bons bolonistas. E existe também hoje uma facilidade de às vezes, até favorecer bolonistas em oferecer alguma coisa pra ele né? ... Então hoje, os próprios diretores de Bolão oferecem alguma coisa: joga comigo que te dou aquilo, que te dou isso... né?

Equipe Feminina do Grêmio Atiradores de Novo Hamburgo
Campeã Estadual Bola Grande de 1978
Capitão: Seu Gernô
Acervo: Grêmio Atiradores de Novo Hamburgo

RAFAEL: Tem muita gente que diz que o Bolão pode terminar. O que tu achas?
GERNÔ: Não... não, não... o Bolão não termina! A gente vê nesses campeonatos estaduais a disputa que existe, a distância que estes times viajam pra jogar às vezes 20 bolas... às vezes nem jogar 20 bolas, só ir junto, né. Então, vai gente pra Frederico Westphalen, sei lá, é longe pra burro! ... viaja 300, 400 quilômetros pra jogar 20 bolas. Mas, isso é porque gosta do Bolão. Lógico, o Bolão tem dificuldade em renovação. Existem renovações muito reduzidas... as renovações que existem são por parte dos filhos de bolonistas que jogam... Como por exemplo, o Rafael Furtado... filho de bolonista... tem o Eduardo Mentz tem um filho que é o Andréas, hoje bolonista... o filho do Mujinha, Ruan, acompanha o pai todas as noites. ... o Gustavo Tegner, filho do Glebe, filho de bolonista... Então, lá na Ginástica eu pensei que poderia fazer uma bom time de jovens, arrumar bons bolonistas na bola pequena, então fui lá em sábados de tarde, abria o departamento e nada. Os guris jogavam futebol de campo, iam lá atirar as vinte bolas e iam jogar de novo futebol. porque lá eles se movimentam os 90 minutos que jogam futebol. E no Bolão não, tu jogas as tuas 20 bolas e tem que ficar olhando os outros. É isso que não dá interesse aos jovens, né. Porque eles tem que ficar a noite toda vendo os outros jogar, depois que jogou, terminou. O Bolão não tem possibilidade de parar. Porque hoje tem todas as categorias... os adultos, os veteranos jogam até quando não puderem mais... então, sempre tem Bolão, sempre!

RAFAEL: Para finalizar, eu queria que tu deixasses uma mensagem para aqueles que não sabem o que é o Bolão!
GERNÔ: O Bolão é uma atividade semanal aonde você tem uma oportunidade dentro da tua Sociedade, de um Grupo, confraternizar com teus amigos... essa formação de treinos e grupos dentro de uma sociedade muitas vezes é tão amigável que você já está esperando a semana seguinte pra, de novo, voltar lá. Porque, muitas vezes, não é só o Bolão... tem o acompanhamento, uma cervejinha, um belisco, um churrasquinho... Isso vai animando, né? ... abrir o departamento para as pessoas conhecerem, ... abrir a Sociedade para novos bolonistas, para criar novos bolonistas... fazer uma olimpíada... uma disputa. Porque é um esporte que você se movimenta,... faz exercícios de braço, de pernas, integra a corrida da bola, se desenvolve né, deixa a gente bastante atlético, bastante disposto a praticar Bolão.

O Bolão, assim, perdeu uma de suas personalidades mais queridas e respeitadas. Bolonista atuante e exemplo de dedicação, nunca se omitiu, sempre à frente e muito preocupado com a continuidade e o futuro do Bolão, mesmo quando a saúde não lhe permitia mais jogar o esporte que tanto apreciava. 
Nossa homenagem ao "Seu Gernô", um dos principais personagens que ajudaram a edificar o rico Bolão Gaúcho.


Seu Gernô com Sérgio Rocha
Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo
Recebendo o Prêmio de Atleta e Colaborador do Departamento de Bolão do Clube

A Câmara Municipal de Vereadores de Novo Hamburgo, aprovou em primeiro turno, um projeto de Lei de autoria do Vereador Raul Cassel, que atribui o nome de Gernô Affonso Eltz a uma via pública no Loteamento Santa Catarina, no Bairro Lomba Grande, em homenagem ao grande desportista hamburguense.

Edição e Redação: Blog O Braço de Ouro

Fonte: Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo
Fonte: Câmara Municipal de Vereadores de Novo Hamburgo
Fonte: Jornal NH (Grupo Editorial Sinos)
Fonte: KROEFF, Marcos Antônio, Grêmio Atiradores 90 Anos, De Ano em Ano, de Pedra em Pedra, Uma História de Todos Nós, Rotermund, 1982.
Fonte: Rafael Furtado - Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) - "A Importância do Espaço Que o Bolão Tem na Mídia Para os Bolonistas de Novo Hamburgo" - Ano de 2006.
Autorização Para a Publicação da Entrevista com Seu Gernô: Rafael Furtado

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